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Olá Pessoal! Quero dar boas vindas aqui e dizer que existe vida para nós mulheres após um crime de disseminação de imagens intimas na Internet. Vou compartilhar em seguida um texto que escrevi quando estava no olho do furacão.
Mas graças a Deus consegui a condenação do meu ex e a cada dia que passa me sinto mais restabelecida e mais forte. Jamais se repara o dano que sofremos, porém, é possível sobreviver, buscar ajuda, ter fé, lutar pela justiça e lutar pela vida! Não podemos desistir! O revenge porn, ou a disseminação de material intimo sem consentimento é um crime hediondo que rouba a vida da mulher, porém, a vida é o nosso bem maior. Nos mulheres precisamos lutar contra esse crime de gênero e não podemos ficar de braços cruzados ao ver nossas vidas sendo roubadas de nos. É possível lutar contra isso. Denuncie!Não se omita! Junte-se a nós!

LESADA

Algumas pessoas se espantam quando digo que às vezes não me sinto tão bem quanto aparento. É claro… Não fico andando chorando pelos cantos, na frente dos outros. E se não choramos por fora, as pessoas simplesmente ignoram que seja possível chorar por dentro. E essa é uma dor muito mais doída do que qualquer outra, um choro que não pode ser visto com os olhos da carne – ele escorre dentro da alma. Um choro que é fruto do sofrimento que não se vê, apenas se sente.
Poucas pessoas conhecem o sofrimento da alma. Algumas jamais choraram essas lágrimas. Assim, como nos vêm em pé, aparentemente sãos, não conseguem imaginar o que se passa em nosso coração… Nem de longe entendem.
Mas a verdade é que me sinto lesada. Sabe aquela história de alguém que sofre um acidente, um trauma e fica aleijado?
É, eu me sinto assim, lesada… É difícil expressar isso, mas é assim que me sinto. E cada dia que nasce, eu digo pra mim mesma a Palavra de Deus e peço que as misericórdias dele que se renovam a cada manhã venham sobre minha vida e me renovem mais uma vez.
Mas cada dia é uma batalha, onde preciso de forças extraordinárias para prosseguir. E assim, estou aprendendo uma coisa muito valiosa: viver um dia após o outro, vencer um dia de cada vez, hora após hora, dia após dia!
Às vezes, o toque do telefone me alarma, quase suo frio, não quero atender… É a falta de vontade de conversar. A falta de vontade de ver gente. A falta de vontade para me arrumar. A falta de vontade de sair de casa. E bate uma vontade de chorar, de me esconder e me entregar. Levantar a cabeça, escolher uma roupa e sair pra luta é um esforço sobrenatural.
Em algum lugar do meu passado ficaram a vaidade, a auto-estima, o ânimo… A vontade de pôr uma roupa bonita, a alegria de um penteado novo, o orgulho de um regime bem feito, da imagem refletida no espelho, a felicidade de se ver brilhar no olhar de um admirador… Sim, porque nos olhos que me fitam, não vejo admiração: vejo uma procura insistente por alguém que não sou eu.
Não existe mais aquela descoberta, aquele flerte, aquela sensação gostosa de se sentir sondada, cortejada… Me olham como se já me conhecessem, como se soubessem quem sou eu, como se já tivessem me visto por inteiro…
Assim, não me permito. Me fecho. Não me dou a conhecer.
Quando alguém pensa que se aproxima de mim, e por alguns milésimos de segundos, vislumbra um pouco do meu eu, logo descobre que se enganara profundamente a meu respeito. Percebe que não me conhece, entende justamente isso, que a imagem que possuía de mim não condiz com a realidade. Poucos me olham sem uma idéia formada, um pré-conceito. Quando vislumbro uns raros olhares que me enxergam de verdade, ou pelo menos têm o semblante isento de estigmas fico feliz…
E assim, tento viver a vida, dia a dia… curando as feridas, sobrevivendo ao tempo… Firmando os passos, vendo onde piso, resistindo ao vento. Aprendendo a viver de novo! Mas sei que tudo passa! “O choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã!”

*Rose Leonel